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O Latim é para todos! (1)

Este artigo foi originalmente publicado em simultâneo no quotidiano on-line La Nuova bussola quotidiana (https://lanuovabq.it/it/primum-la-realta-il-viaggio-nel-latino-che-non-ti-aspetti) e no blog do autor La ragione del cuore (https://www.giovannifighera.it/latino-serve-1-primum-la-realta-viaggio-nel-latino-non-ti-aspetti/), no dia 2 de abril de 2018. A tradução portuguesa é aqui publicada com a autorização das partes interessadas, a quem agradecemos a generosidade.

Esta série de artigos do Prof. Giovanni Fighera (em italiano "Il Latino serve a tutti") vai mostrar-te um lado do Latim que, tantas vezes, não podemos explorar nas aulas. É uma autêntica viagem pela literatura latina! Neste primeiro episódios, há algumas referências à situação do Latim no ensino italiano, mas as considerações do autor, mutatis mutandis, também se adequam bem ao caso português. Boa leitura!


“Primum” a realidade: a viagem pelo Latim de que não estavas à espera

Da autoria do Prof. Giovanni Fighera

Os alunos do Ensino Básico estão cada vez mais assustados com o Latim e preferem evitá-lo, com medo de não conseguirem passar à disciplina ou para escaparem a esse esforço. Pelo contrário, o conhecimento do Latim permite apreciar melhor muitos aspetos da realidade. Mas quais? Descubramo-los em conjunto nesta viagem em episódios!



Pierre-Narcisse Guérin,

Eneias descreve a ruína de Troia a Dido (1815)

Nas sessões de esclarecimento sobre as escolhas curriculares organizadas pelas escolas, muitos pais perguntam se existe uma diferença assim tão grande entre uma escola em que se estuda Latim e outra em que a disciplina não consta do plano de estudos. As escolhas das famílias e dos alunos são cada vez mais orientadas para percursos escolares sem Latim, com a convicção de que estudar ou não esta disciplina faz pouca diferença, considerando que as outras disciplinas são quase as mesmas em todo o lado. É este o raciocínio da maioria: se em dez disciplinas nove são iguais, a diferença entre um plano de estudos com Latim e outro sem será quase inexistente.

Na realidade, acabar com o estudo do Latim numa escola significa simplesmente substituir uma disciplina por outra? Ou será que o Latim não é uma simples disciplina, mas uma luz que ilumina e permite ver tudo melhor? Não será como se estivéssemos numa casa sem luz suficiente e nos fosse dada uma lâmpada que nos permitisse movermo-nos com mais destreza?

Os alunos do Ensino Básico estão cada vez mais assustados com o Latim e preferem evitar a disciplina, talvez com medo de não conseguirem passar ou, talvez, para não terem demasiado trabalho.

Certamente, não defendo um currículo escolar igual para todos, nem muito menos o estudo do Latim em todos os casos. Estou firmemente convencido de que se deve ajudar os alunos a perceber as propensões, as paixões, os talentos e as capacidades que têm. A escola tem a função de contribuir para a formação da pessoa, para construir uma dimensão cultural, para levantar corajosamente questões sobre si próprio, sobre a vida e sobre a realidade. Se um aluno tem uma clara propensão para disciplinas práticas, se tem a firme convicção de que quer ser carpinteiro no futuro, a sua família deverá, decididamente, levar em consideração a hipótese de que ele siga um percurso de formação profissional que o prepare para esse trabalho.

O meu discurso dirige-se, pelo contrário, a todos aqueles alunos que têm uma clara propensão para o estudo, que desejam adquirir uma cultura geral para depois prosseguirem os estudos a seguir ao Liceu e estão, ao mesmo tempo, convencidos de que uma escola com ou sem Latim vale o mesmo. A todos estes alunos sugiro concretamente um critério para as suas escolhas: nunca escolham pelo “menos”, mas sempre pelo “mais”. Vou explicar-me melhor. Se tiverem de escolher um percurso de estudos, façam-no porque reconhecem nesse percurso uma mais-valia para a vossa pessoa, para as vossas propensões, para a vossa formação cultural, não apenas porque vos parece mais fácil ou acarreta um menor dispêndio de energias. Poupar energias, não suportar esforços e não se habituar aos sacrifícios são modalidades que não premeiam, não formam, não educam, ou seja, não fazem crescer a pessoa.

Para que serve o Latim? Será assim tão opcional o seu estudo? Digo já que estou firmemente convencido de que qualquer pessoa que tenha tomado a sério o estudo do Latim não tem dúvidas sobre a sua utilidade. Estou outro tanto convencido de que estudá-lo mal não serve para nada, mas se o tratamos com seriedade serve para tudo, porque ilumina com uma luz nova todos os âmbitos do saber. Num certo sentido, para o homem, tudo o que não é amigo e não é conhecido é como se fosse inimigo, não valorizado, inútil para a vida e para o crescimento.

O conhecimento do Latim permite apreciar melhor muitos aspetos da realidade. Mas quais? Só o estudo e a experiência podem prová-lo a cada um. Antecipo, porém, que é preciso ter coragem de trabalhar, de empenhar bastante tempo (como a raposa do Principezinho), mesmo quando não se compreendem plenamente as razões para esse esforço. É preciso ter coragem de despender tempo para aprender bem a disciplina.

Sem dúvida, a aprendizagem de uma disciplina não é simplesmente um instrumento para adquirir aquela competência que deve ser adquirida. A nossa escola tornou-se, demasiadas vezes, uma escola das competências (do saber fazer), frequentemente desligadas da cultura. As antologias, por vezes, propõem a leitura de um poema para adquirir uma competência, para aprender um pormenor de estilo ou uma figura retórica ou qualquer coisa parecida. Isto é uma operação violenta que se arrisca a desenamorar os jovens da leitura, da poesia, da narrativa.

Quando se está enamorado por uma disciplina, quando se a ama, percebe-se que é uma operação absurda limitar o seu estudo para assegurar aos alunos alguns "objetivos específicos". Compreende-se que a coisa mais bela é que outra pessoa possa ficar fascinada, como nós próprios ficámos, por aquela beleza. É este fascínio, esta paixão, este entusiasmo por qualquer coisa que nos precedeu, que é maior do que nós, e que, de certo modo, deixou em nós a fonte que pode levar um jovem a estudar Latim.

Nesta viagem gostaria de esclarecer os motivos pelos quais vale absolutamente a pena apaixonar-se pelo Latim. Desde sempre, os seus mais aguerridos defensores apregoaram o motivo de que o estudo de uma língua antiga e morta ensina a raciocinar e desenvolve o sentido lógico. Porque não aprender a raciocinar com outros métodos menos cansativos e mais atraentes? As palavras cruzadas também podem ensinar a raciocinar, a Filosofia também, uma demonstração matemática também, um texto em prosa ou um poema também, um quadro, uma música. Afinal, porquê cansar-se tanto em 2020 à volta do Latim?

Para descobrires a resposta a esta questão, terás de seguir os outros artigos desta série do Prof. Giovanni Fighera. Fica atento à sua publicação!

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