Data de longe a ideia de santificar pela oração e por maior generosidade o período do Natal.
Se é verdade que para receber a Jesus é necessária a purificação dos pecados, também é certo que a expectativa da vinda de Jesus convida à esperança e à alegria. A Igreja manda omitir o Glória e usa o roxo, mas continua a cantar Aleluia; as suas orações litúrgicas procuram preparar as almas, mas tendem principalmente a exaltar a esperança.
E durante todo o Advento, cada dia é iluminado pelo pensamento de Maria, que ora connosco e espera o divino Infante.
No divino Infante contemplamos o admirável mistério de um Deus que Se faz homem, para que os homens se tornem divinos; o Filho que se faz escravo, para que os escravos se tornem filhos.
Na Carta Apostólica “ADMIRABILE SIGNUM”, sobre o significado e o valor do Presépio, o Papa Francisco diz o seguinte:
O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. (...) Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrirmos que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele (AS, 1).
Perante esta prova de humildade, reconheço que é urgente mexer-me, constranger a minha inércia, erguer-me do sono, da rotina, da indiferença…
Parece-me que a ciência do presépio é fácil de beber. O Mestre é um menino amável, que sorri. A lição é curta. A Palavra eterna, para se acomodar à minha pobre inteligência rebelde, reduziu-se às dimensões mais estreitas… Mas, infelizmente, parece que essa lição ainda não foi bem percebida pelos meus ouvidos.
Às vezes, parece-me que a cena do Presépio não passa de uma encenação cultural que faz parte do “movimento” da quadra festiva do final do ano civil. Que me diz o Menino sobre isso? Oh, Ele ainda não sabe falar; não diz palavras. Nem tão pouco José, e Maria ainda menos… todos se calam no presépio. Há só que olhar…
Abro bem os olhos e fixo o Presépio. O que vejo? Um estábulo, pobres animais, palhas conspurcadas. Lá no fundo da manjedoura dos cordeiros, está deitado o Cordeiro de Deus! O Rei do mundo envolto em panos.
Ah! Que cenário tremendo! Aqui expira toda a minha bagagem de vaidade, de arrogância, prepotência. Vejo quão embaraçosa, incómoda e sem sentido é a minha megalomania ao pé do presépio em que repousa o Verbo de Deus!
Agora percebo por que o presépio tem o poder de enlevar e transportar para o mundo do maravilhoso e convencer de que Deus não me ama só de palavras. “A palavra fez-Se carne e veio habitar no meio de nós". Percebo que “o presépio não é para ser somente admirado, mas, sobretudo, para ser rezado”. Ao contemplá-lo com os olhos da fé, nascem em mim vários sentimentos.
Faz sentido que me falem da necessidade da purificação dos pecados para receber a Jesus; purificado, o convite à esperança e à alegria que a expectativa da vinda de Jesus me faz, terá outro sabor.
Portanto, se o presépio não me ensina a renúncia absoluta ao finito, ao criado, então sou louco e cego.
Na companhia dos pastores, revestidos de seus sentimentos e envolvidos pela mesma luz daquela “noite feliz”, aproximemo-nos do presépio onde encontraremos Jesus, deitado na manjedoura, Maria e José. Festejemos o Natal unidos à Sagrada Família, trazendo-a para a intimidade das nossas famílias.
Padre Adelino Prata (Capelão 1.º ciclo)
No dia 15 de dezembro o Padre Adelino abençoou os presépios do 2.º ano das Conchas.
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