Este ano, o departamento de artes foi desafiado pela Teresa Vaz Guedes a colaborar na concepção e produção do espaço do altar e presbitério para a missa nova do Padre Cláudio. A mim coube-me a responsabilidade de levar avante a elaboração de uma imagem do menino Jesus, uma missão aparentemente impossível, que ainda nem percebi bem como é que aconteceu.
Inicialmente nem sonhava que a maior responsabilidade desta encomenda recaísse sobre mim, no entanto, o trabalho foi sempre muito participado pelo departamento. Mais de perto ou à distância, direta ou indiretamente, todos os "nossos" artistas foram acompanhando e criticando a evolução da peça que pouco a pouco foi tomando forma.
A parte mais difícil, e que acabou por ser a última, foi a definição do rosto do Menino. O objectivo era figurar um rosto infantil, simpático, acolhedor, mas que nem por isso transmitisse uma atitude fortuita ou inconsciente. Importava antes encontrar-lhe uma expressão focada e intensa, capaz de emanar tranquilidade mas que fosse simultaneamente interpeladora.
Não me compete avaliar o ponto a que fomos capazes de chegar, mas posso assegurar que o resultado implicou um caminho longo de tentativas sucessivas. Durante as semanas que o trabalho durou, entre o estudo aturado de exemplos de obras de arte de escultores notáveis e a compilação de imagens fotográficas ilustrativas de crianças em diversas posições, a pesquisa multiplicava-se enquanto as versões na oficina se sucediam. Já me deitava e acordava a pensar na forma que a cara daquela imagem devia ter, a ponto de se tornar uma procura quase obsessiva. Mas os resultados não satisfaziam.
Certo é que, entre a dança das máscaras cirúrgicas postas e tiradas a que se assiste por estes dias, dei por mim a observar intermitentemente os rostos que podia e nomeadamente os dos meus alunos. Foi afinal nesses, em rostos vivos, que encontrei a inspiração para o rosto daquele menino Jesus.
Posso dizer que neste Advento, a concepção desta peça, me concedeu um tempo de procura do rosto de Jesus que acabei por encontrar na contemplação de rostos daqueles que me estão próximos. Afinal não deveria eu já saber isto?
Pedro Salinas Calado (Professor de Artes)
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