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Foto do escritorColégio de S. Tomás

Este ano, o departamento de artes foi desafiado pela Teresa Vaz Guedes a colaborar na concepção e produção do espaço do altar e presbitério para a missa nova do Padre Cláudio. A mim coube-me a responsabilidade de levar avante a elaboração de uma imagem do menino Jesus, uma missão aparentemente impossível, que ainda nem percebi bem como é que aconteceu.

Inicialmente nem sonhava que a maior responsabilidade desta encomenda recaísse sobre mim, no entanto, o trabalho foi sempre muito participado pelo departamento. Mais de perto ou à distância, direta ou indiretamente, todos os "nossos" artistas foram acompanhando e criticando a evolução da peça que pouco a pouco foi tomando forma.

A parte mais difícil, e que acabou por ser a última, foi a definição do rosto do Menino. O objectivo era figurar um rosto infantil, simpático, acolhedor, mas que nem por isso transmitisse uma atitude fortuita ou inconsciente. Importava antes encontrar-lhe uma expressão focada e intensa, capaz de emanar tranquilidade mas que fosse simultaneamente interpeladora.

Não me compete avaliar o ponto a que fomos capazes de chegar, mas posso assegurar que o resultado implicou um caminho longo de tentativas sucessivas. Durante as semanas que o trabalho durou, entre o estudo aturado de exemplos de obras de arte de escultores notáveis e a compilação de imagens fotográficas ilustrativas de crianças em diversas posições, a pesquisa multiplicava-se enquanto as versões na oficina se sucediam. Já me deitava e acordava a pensar na forma que a cara daquela imagem devia ter, a ponto de se tornar uma procura quase obsessiva. Mas os resultados não satisfaziam.

Certo é que, entre a dança das máscaras cirúrgicas postas e tiradas a que se assiste por estes dias, dei por mim a observar intermitentemente os rostos que podia e nomeadamente os dos meus alunos. Foi afinal nesses, em rostos vivos, que encontrei a inspiração para o rosto daquele menino Jesus.

Posso dizer que neste Advento, a concepção desta peça, me concedeu um tempo de procura do rosto de Jesus que acabei por encontrar na contemplação de rostos daqueles que me estão próximos. Afinal não deveria eu já saber isto?


Pedro Salinas Calado (Professor de Artes)

Foto do escritorColégio de S. Tomás

A Missa Nova do Cláudio, pensada há tantos meses… como preparar este dia tão importante que teria lugar em Dezembro, ao ar livre, com risco de mau tempo…chuva, vento e frio?


Comecei por isso a pedir orçamentos para uma cobertura para o altar e para 1000 cadeiras... Viagens pela internet e por mares nunca dantes navegados e... a grande descoberta de um povo extraordinário que, mais do que dar tanto, deu-se na totalidade! O Nuno, da empresa Palco e Bancada, a Cláudia, da Rent&Go, que desde o princípio perceberam o nosso desejo e foram ao encontro de todas as nossas preocupações!

E a história continua… Precisava de um Menino Jesus grande para pôr à frente do altar.

É Natal!


E, já agora, um Menino Jesus sentado, a abraçar e a benzer todos! Após vários naufrágios vou ter com o Pedro Calado: ´´Pedro, preciso de ti e de todos os professores de artes!’’. Esse foi o segundo milagre, o de me terem levado a sério! O Pedro deitou as suas mãos à obra e a Marta, a Graça o Eduardo e o Bernardo estudaram as escalas, fizeram os cálculos, ajudaram a montar o altar na véspera da Missa, sempre disponíveis para porem em prática o que eu tinha idealizado. Foi um Advento de graças onde se via literalmente o Bem a crescer dentro de portas!


Por fim, o dia da Missa e… muita chuva prevista! E choveu muito antes da Missa. E choveu muito depois da Missa. Durante a celebração, entre morrinha, veio um sol quentinho iluminar o Menino e um coro de anjos começou a cantar!

O Menino, esplendoroso de vida, de amor e de alegria, não parava de estender os braços a todos e a cada um!

Comovidos pela beleza da Sua obra na vida do Cláudio, na nossa vida e na vida do CST, «levantámo-nos e andámos», cheios de esperança e de gratidão!


Teresa Vaz Guedes (Diretora Logística do CST)

josefeitor

O meu nome de batismo é Luís Jorge Peixoto Archer e fui um notável cientista, português, tendo dedicado a minha vida a estudar e a divulgar Genética Molecular e Bioética, ao serviço da Companhia de Jesus, onde me ordenei sacerdote em 1959.


Nasci na cidade do Porto, no dia 5 de maio de 1926, dias antes da Revolução de 28 de maio de 1926, caracterizada pelo derrube dos liberais-republicanos e o início do Estado Novo. Contaram-me os meus pais que, nesse dia, às seis horas da manhã, o General Gomes da Costa iniciou a revolução na cidade de Braga e que esta se espalhou rapidamente por todo o país levando à instalação de uma ditadura militar que, posteriormente, se transformou numa ditadura nacional que durou até 1974.


[Gomes da Costa e as suas tropas desfilam em Lisboa, a 6 de junho de 1926]


Nasci na belíssima cidade do Porto, cujo centro histórico foi nomeado Património Mundial. Desde jovem que percorri as ruas dessa cidade a pé, quando ia para a escola, o Liceu Rodrigues de Freitas, ou então quando ia para o Conservatório de Música, onde estudei piano. Foram grandes os professores que aqui tive e com quem muito aprendi. De tal forma que mais tarde fui convidado para ser organista na Faculdade e orientei também vários coros em colégios jesuítas. Tive uma infância muito feliz e completa.


[Fachada do Liceu Rodrigues de Freitas, onde estudou Luís Archer]


Em 1947 licenciei-me em Ciências Biológicas na Universidade do Porto mas faltava algo na minha vida. Fui aprofundando e rezando sobre essa falta e decidi ingressar na Companhia de Jesus. Desejei, no entanto, aprender para encontrar sempre a Verdade e continuei os meus estudos, dedicando-me à investigação científica.


Consegui sempre conciliar estas duas grandes vocações na minha vida: ser investigador na área da Genética Molecular e ser um padre jesuíta. Foi então que me licenciei em Filosofia na Faculdade de Teologia, em Braga, já no ano de 1954.



[Faculdade de Teologia na cidade de Braga]


Desejoso de querer ser ainda mais amigo de Jesus, concluí em 1960 a minha última licenciatura: Teologia. Foi então que dei um dos maiores passos na minha vida: fui ordenado sacerdote jesuíta. Nessa altura estava a estudar na cidade de Frankfurt, Alemanha, muito pouco tempo depois de ter terminado a II Guerra Mundial. Foi o momento ideal para aprofundar as minhas primeiras ideias sobre bioética e sobre o modo como a genética poderia ficar associada ao ideal do Holocausto. Era mesmo necessário discutir se esse seria o caminho que queríamos, recorrendo à manipulação genética de indivíduos para os tornar «perfeitos». Sempre tive na minha cabeça a ideia de que, se algo for tecnicamente fazível, o Homem vai fazê-la. Por isso tomei a liberdade de aprofundar cada vez mais os estudos.

Sempre acreditei que a ciência é a busca da Verdade e por isso sempre desejei continuar a estudar genética e a ensiná-la. Fui professor em Colégios Jesuítas e, anos mais tarde, enveredei pela carreia académica no Laboratório de Bioquímica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.


Passei a estudar as 4 letras que constituem o código da molécula de ADN (Ácido Desoxirribonucleico) que talvez conheças melhor como sendo DNA. Através de um código de A (Adenina), T (Timina), C (Citosina) e G (Guanina) é possível descobrir as principais características genéticas de um ser vivo. E isso é verdadeiramente deslumbrante e desafiador.



[Figuras representativas das quatro bases nitrogenadas que constituem as moléculas de DNA]


Foi em 1953 que uma descoberta científica mudou a minha vida. Dois grandes cientistas, chamados Watson e Crick, apresentam os seus estudos sobre a estrutura da molécula de ADN. Os seus resultados vieram revolucionar a genética molecular. E eu queria muito estudá-la e compreender como funciona a molécula básica da vida.



[Watson e Crick apresentaram, em 1953, o modelo em dupla hélice do DNA]


Foi aí que, já com três licenciaturas, decidi aprofundar os meus conhecimentos nesta área e rumei para os Estados Unidos. Ia fazer o meu doutoramento em Bioquímica e Genética Molecular mas a minha candidatura foi rejeitada em duas Universidades. Acabei por conseguir entrar na Universidade de Georgetown. Tinha 41 anos de idade.



[Fachada da Universidade de Georgetown, onde estudou Luís Archer]



[Capa da tese de Doutoramento de Luís Archer SJ. Quando regressou a Portugal não foi reconhecida pela Universidade e Luís Archer teve de a traduzir para Português e entregar como novo doutoramento em Biologia]


Mas fiquei com muitas saudades do meu país e, em verdade, tinha ido aprender mais, mas levava o desejo de regressar a Portugal e contribuir para a divulgação destas áreas junto dos portugueses. Foi precisamente isso que fiz quando regressei, tendo sido responsável pela introdução da unidade de bioquímica e genética molecular na Faculdade de Ciências e na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Foram anos extraordinários a ensinar milhares de alunos com os novos conhecimentos que tinha adquirido nos Estados Unidos. Em 1969 terminei o doutoramento em Biologia. Para mim, estudar sempre foi o melhor método de descobrir a Verdade e dediquei muito tempo da minha vida a fazê-lo.

Em 1971 fui convidado para desenvolver o Laboratório de Genética Molecular do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras. Foi um grande desafio trabalhar como chefe do Laboratório ao longo de 20 anos. Foram centenas os cientistas com quem trabalhei transmitindo-lhes tudo o que tinha aprendido, mas também aprendendo com as suas investigações.



[Atuais instalações do Instituto Gulbenkian da Ciência, em Oeiras]


Estava, decididamente, enraizado no mundo académico e, sempre que me era possível, continuava a dar aulas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e ainda no prestigiado MIT (Massachussets Institute of Technology), considerada uma das maiores universidades do mundo. Foi impressionante trabalhar na mesma universidade de onde saíram 85 cientistas que ganharam o Prémio Nobel e 34 astronautas, que dedicam a sua vida a conhecer o Universo e o modo como ele funciona. Mas sabes, quero confessar-te um segredo: de tudo aquilo que tenho feito, o meu maior prazer é exercer o sacerdócio. Na verdade, por inúmeras vezes me questionaram se me sentia mais um homem da ciência ou um homem da religião. Com um sorriso respondia: «Sou as duas coisas». Sempre percebi que a ciência e a religião são dois mundos distintos, porém convergentes.

Com 52 anos tomei a decisão de vir viver para Lisboa. Fui agraciado com o cargo de Professor Catedrático de Genética Molecular na Universidade Nova de Lisboa. Passei a dedicar a minha vida aos estudos da Genética Molecular e da Bioética, área onde me tornei uma referência a nível internacional.



[Livro “Da Genética à Bioética” de Luís Archer SJ.]


Estou convicto de que a minha formação altamente diversificada na área das ciências e na área da Filosofia e Teologia me forneceu uma qualidade humana que se revelava a quem comigo trabalhou.

Foram anos de grande intensidade de publicações, investigações, aulas, viagens por dezenas de países, sempre consciente de ser um grande cientista e um homem de Fé.


Foi uma vida dedicada a descobrir o modo como Deus se revela ao homem através da natureza.


Morri com 85 anos [de uma vida cheia] em Lisboa, a 8 de outubro de 2011.



[Luís Archer SJ com a escultura do prémio “Árvore da Vida” em Fátima, junho de 2008, como reconhecimento pelo seu trabalho em Bioética]

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