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Foto do escritormarcoshelena

Uma torção perigosa

Retomamos hoje o estudo do grego. Antes de passarmos para outro tópico de vocabulário, sugiro ainda mais um exercício sobre as partes do corpo. Espero que não se fartem!... Mas reparem que é um ótimo começo descobrir que sabemos muito mais palavras gregas do que imaginávamos há algumas semanas. A imagem desta aula é uma estátua do Discóbolo (muito mais atlético do que o nosso bom velho Sócrates da última vez):



Na imagem, tens algumas palavras portuguesas do campo da medicina que derivam dos nomes de algumas partes do corpo em grego. Baseando-te nelas, dá a tradução portuguesas das seguintes palavras gregas:


ποδός / χείρ / δέρμα /

γαστήρ / καρδία / πλευρά


Como a tradução de “πλευρά” pode não ser evidente, talvez dê jeito dar uma olhadela à imagem e à citação seguintes:


… ᾠκοδόμησεν κύριος ὁ θεὸς τὴν πλευράν,

ἣν ἔλαβεν ἀπὸ τοῦ Αδαμ, εἰς γυναῖκα…


Contas sem fim

Depois do nosso atleta com uma torção perigosa, continuamos as nossas explorações sobre o vocabulário grego e a sua presença na língua portuguesa. Vamos agora debruçar-nos sobre os números. Portanto, em primeiro lugar, convém saber precisamente como se diz “número” em grego… Ora bem, “algarismo” é árabe, “número” é latim, mas o que é a “aritmética”? Cá está: em grego, “número” diz-se naturalmente “ἀριθμός”!

E, combinando o que sabemos de geometria com outros conhecimentos gerais, até somos capazes de contar até dez em grego. Qual é o número grego escondido em cada uma das seguintes palavras portuguesas?

monólogo / diálogo / trigonometria / tetracampeão / pentatlo /

hexágono / heptágono / octacordo / enésima vez / decálogo

Associa agora cada um dos algarismos de 1 a 10 ao numeral grego correspondente.

μόνος / δύο / τρεῖς / τέσσαρες / πέντε /

ἕξ / ἑπτά / ὀκτώ / ἐννέα / δέκα

Voltamos mais uma vez às frases do Evangelho. Depois de construíres uma tabela com os números em grego seguidos da sua tradução, identifica a tradução de cada versículo bíblico. Vais ver que chegas lá com uma mão atrás das costas! Mas cuidado, porque vais precisar dos dez dedos das mãos para contar tanto número! Também podes tentar perceber de que episódio do Evangelho se trata.


(A) πέντε γὰρ ἄνδρας ἔσχες (João, IV, 18)

(B) ἑπτὰ ἀδελφοὶ ἦσαν (Marcos, XII, 20)

(C) ἦσαν δὲ ἐκεῖ λίθιναι ὑδρίαι ἓξ (João, II, 6)

(D) Τότε ὁμοιωθήσεται ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν δέκα παρθένοις (Mateus, XXV, 1)

(E) Ἔστιν παιδάριον ὧδε ὃς ἔχει πέντε ἄρτους κριθίνους καὶ δύο ὀψάρια (João, VI, 9)

(F) ἄνθρωπος εἶχεν τέκνα δύο (Mateus, XXI, 28)


(1) Um homem tinha dois filhos…

(2) Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes.

(3) Havia sete irmãos…

(4) Ali perto havia seis jarros de pedra…

(5) O Reino dos Céus será, pois, semelhante a dez virgens…

(6) De facto, tiveste cinco maridos...


Sem dúvidas, poderíamos prosseguir indeterminadamente com os nossos cálculos, mas temos de passar para outro tema. No entanto, ainda veremos rapidamente os múltiplos de dez. Qual é o número grego na origem destas duas palavras? Investiga e escreve a tua resposta nos comentários.


hecatombe / quilograma


Quem somos? Como estamos?

É chegado também o momento de aprender um pouco de gramática mais a sério. Não é preciso termos medo! Vamos sempre muito de devagar. Também convém recordar que os gregos utilizavam a sua língua como meio de comunicação no dia a dia para falarem sobre todos os assuntos da vida quotidiana, pelo que, se eles conseguiam dominar o grego, nós também havemos de chegar com lá com perseverança! Este pensamento incentivará seguramente a nossa aprendizagem.

Assim, se pensarmos no nosso quotidiano, não há nada mais recorrente do que dizermos quem somos ou como estamos. Para isso, precisamos de aprender os pronomes pessoais e o verbo “ser” no presente. Depois de decorarem a tabela e fazerem os exercícios, vão aperceber-se rapidamente de que este esforço inicial vai compensar muito:

Atenção! Reparem que em grego o verbo "ser" também significa "estar", como em inglês I am ou em francês je suis.


Para consolidar esta matéria, deixo-vos aqui alguns versículos bíblicos. A tarefa já começa a ser conhecida: devem associá-los à sua tradução em português. Apenas mais uma chamada de atenção: a ordem das palavras em grego é mais livre do que em português (o verbo pode vir no final da frase).


(A) Ἐγώ εἰμι τὸ φῶς τοῦ κόσμου.

(B) Σὺ εἶ ὁ Χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ τοῦ ζῶντος.

(C) Aὐτός ἐστιν ἡ κεφαλὴ τοῦ σώματος.

(D) Ἡμεῖς ἐσμεν ἐν τῷ κόσμῳ τούτῳ.

(E) Ὑμεῖς ἐστε τὸ ἅλας τῆς γῆς.

(F) Aὐτοὶ ἐκ τοῦ κόσμου εἰσίν.


(1) Nós estamos neste mundo.

(2) Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.

(3) Eles são do mundo.

(4) Vós sois o sol da terra.

(5) Ele é a cabeça do corpo.

(6) Eu sou a luz do mundo.


Consegues reconhecer outras palavras gregas? Repara nos vocábulos que se repetem. Mais tarde, faremos uma lista com estas palavras muitos simples que já têm aparecido nas nossas frases.


Por fim, a Ressurreição!

Não que eu queira sugerir com o título que, depois desta aula de grego, vocês estejam mortos… Mas, como estamos em pleno tempo pascal, seria incorreto da minha parte não propor algo da espiritualidade grega. Assim, deixo-vos aqui o tropário que canta a ressurreição gloriosa de Cristo.



E, se preferirem uma versão mais litúrgica, vejam este vídeo:



Olhando agora para o texto, vamos tentar identificar algumas palavras:

Χριστὸς ἀνέστη ἐκ νεκρῶν, θανάτῳ θάνατον πατήσας, καὶ τοῖς ἐν τοῖς μνήμασι, ζωὴν χαρισάμενος!

A tradução portuguesa vai ajudar:

Cristo ressuscitou dos mortos,

com a morte a morte calcando,

e aos que estavam nos sepulcros

a vida dando.


Darei as soluções na próxima aula. Até lá, deixem as vossas sugestões nos comentários. E despedimos com a saudação grega tradicional para este tempo de alegria:


Χριστὸς ἀνέστη! Ἀληθῶς ἀνέστη!

Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!

António Arruda


Bem vês que, nas torrentes invernais, quando as árvores cedem, os ramos se salvam: quem oferece resistência, perde-se com as próprias raízes. Do mesmo modo, quem distender com força a cordagem da nau e não ceder em nada, há-de ficar voltado para baixo, e navegar para sempre com os bancos dos remadores virados ao contrário.


Sófocles, Antígona


Ninguém quer ver as suas raízes arrancadas da Terra. Ninguém quer ver o seu barco, em pleno mar, virado ao contrário. No entanto, mostramo-nos demasiadas vezes renitentes em ceder. É verdade, ceder pode ser sinal de fraqueza, mas não esqueçamos que é também muitas vezes vital.


Hémon, noivo de Antígona, refere dois casos nos quais ceder é essencial para assegurar a continuidade de uma certa atividade: as árvores que, para salvar os ramos, naturalmente cedem ao vento e aqueles que, para bem da nau, escolhem ceder ao vento. No segundo caso fica claro que a cedência se segue a um momento de deliberação, que é uma decisão e que não acontece por falta de força daquele que cede. Creonte, pai de Hémon, é um homem de força, de convicções fortes, que acha que “ceder é terrível”. É a ele que o conselho de Hémon é dirigido.


Definamos então dois sentidos de cedência: ceder, no bom sentido, é quando abandonamos as nossas convicções fortes erradas; no mau sentido, ceder é quando abandonamos as nossas convicções fortes corretas. Assim, o bom ladrão cedeu para bem. Já se Santa Luzia tivesse cedido, teria cedido para mal.


Daqui se segue algo que já todos sabemos, que não devemos ceder por princípio, mas apenas quando é para bem. A dificuldade reside no facto de muitas vezes o que é para mal nos parecer ser para bem. Perceber que se está errado é mais difícil do que seria de esperar. Por um lado, ceder tem que ver com perceber que se está errado. Por outro lado, tem que ver com admitir a possibilidade de se estar errado. Se ceder no primeiro caso parece algo natural, no segundo nem tanto.


A confirmação de que estamos errados torna o processo de cedência mais fácil. Porém, a chegada desta confirmação levanta um problema temporal interessante: Creonte só se mostra disponível para ceder quando percebe que está errado. No entanto, se tivesse cedido com base na possibilidade de estar errado, teria de facto cedido, efetivamente, e não apenas quanto ao seu propósito, evitando assim uma tragédia.


Nicolau, tirano retratado num dos episódios da vida de Ginepro, é atormentado precisamente por uma questão de tempo. Abdica do seu poder, mas, segundo o próprio, tarde demais. O seu último ato de crueldade, julga ele, condená-lo-á:


«I truly believe that the end of my evil deeds and my life is approaching. For since I have treated this holy man so cruelly without his being guilty – although I did not know it – God will not tolerate me any longer and I will soon die a violent death.»


Ugolino di Monte Santa Maria, The Life of Brother Juniper


Tarde ou não – não sabemos – Nicolau acaba por ceder para bem. É aqui que reside a principal diferença entre Nicolau e Creonte. Creonte nunca chega a consumar a sua nova intenção – a completar o seu ato de cedência – porque, por uma questão de tempo, perde a oportunidade para tal. Ainda que, para um e para outro, a consequência mais característica pareça ser a mesma, o arrependimento, os atos de ambos influenciam de forma muito diferente aqueles que os rodeiam e, por isso, podemos afirmar que qualquer possibilidade de cedência implica necessariamente outros.


É também por esta razão que encontramos nos outros a chave para uma boa cedência. Olhemos com atenção para o pedido do Rei Salomão:


«Terás, pois, de conceder ao teu servo um coração cheio de entendimento para governar o teu povo, para discernir entre o bem e o mal. De outro modo, quem seria capaz de julgar o teu povo, um povo tão importante?»


1Rs 3:7


Primeiro pede entendimento. Depois pede a capacidade para discernir entre o bem e o mal. Se entendermos os outros e formos capazes de discernir entre o bem e o mal, saberemos sempre quando ceder para bem. No entanto, importa não esquecer que se trata de um pedido a Deus, ou seja, do reconhecimento da incapacidade para fazer tais coisas sozinho. Tal como o Rei Salomão, também nós não somos capazes de o fazer sozinhos.


Na nossa vida somos chamados a ceder em várias situações, todas elas diferentes. Porém, parece-me que as podemos dividir em dois grupos: ceder no plano familiar e ceder no plano político. No plano familiar, independentemente da cedência ou falta dela, alguma unidade está assegurada. Na polis, por outro lado, para haver comunidade tem necessariamente de haver cedência. A cedência política é requerida a todos, afinal somos todos animais políticos.


São Paulo recomendou “que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade.” (1Tm 2:1). Façamos o pedido de Salomão, por nós e por todos aqueles que não o fazem.

Foto do escritormarcoshelena

Depois de uma breve interrupção para um merecido descanso, retomamos hoje o estudo do Grego Antigo. E começamos por corrigir os exercícios sobre as partes do rosto. A tabela seguinte dá a tradução de cada termo grego e o nome da doença associada.


A chave do exercício sobre os versículos bíblicos é a seguinte:

(A) – (4)

(B) – (3)

(C) – (6)

(D) – (1)

(E) – (5)

(F) – (2)

Antes de avançar para outros temas, queria ainda chamar a vossa atenção para duas questões.

O <s> grego

Certamente, ao estudarem a tabela do alfabeto grego, reparam que a letra minúscula <s> pode ter duas grafias.

<σ> ou <ς>

Os mais atentos já terão compreendido, pela simples observação, que:

· no início e no meio das palavras escrevemos <σ>, por exemplo: στόμα e γλῶσσα;

· no final das palavras utilizamos <ς>, por exemplo: ὀφθαλμός.

Afinal, trata-se de uma mera questão de grafia!

A passagem das palavras gregas para o português

Muitos de vós também terão reparado que as palavras gregas entraram na língua portuguesa com algumas alterações, sobretudo quanto às vogais. Portanto, convém enumerar aqui as mais frequentes:



Até breve!

Mais São Tomás
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